quinta-feira, 3 de julho de 2008

Marcos da ocupação de Rondônia durante a Fase Colonial





A ocupação européia na Amazônia de forma efetiva inicia-se no séc. XVII, provocado pelo temor da presença de holandeses, franceses e ingleses que em busca de riquezas, penetraram no território amazônico.

Os espanhóis alteraram a estrutura social, mas utilizaram formas de exploração presentes naquelas nações. Os portugueses desarticularam a estrutura de trabalho do indígena, através de três formas:
O descimento, que consistia no "convencimento" do indígena a descer para as missões;
O resgate, que consistia na troca de mercadoria por prisioneiros de guerra inter-tribais; A Guerra justa, que consistia na condução violenta do indígena a descer para as missões;

Vários grupos indígenas (Mura, Torá, Pacaas Novas) deslocaram-se para a região do Madeira - Guaporé, provocando conflitos inter-tribais pelo domínio territorial.
O Tratado de Tordesilhas (1494) marco da Partilha Colonial entre portugueses e espanhóis estabeleceu a posse do Amazônia para os Castelhanos.

O 1º Tratado de Utrecht (1713), assinado entre França e Portugal, confirmando o Oiapoque com fronteira entre aqueles países.

O 2º Tratado de Utrecht (1915), assinado entre Portugal e Espanha, deixou sem solução a questão do Oeste, promovendo novos focos de tensão;

O Tratado de Madri (1750), que justificado pelo "uti possidetis de facto" (usucapião) ou seja a terra pertence a quem ocupa de fato. Esse tratado fixou a linha de fronteira no extremo norte e oeste, a partir dos Cursos dos rios Guaporé e Mamoré, até o curso intermediário do Madeira, na altura da atual cidade de Humaitá, consolidando as fronteiras lusitanas nas margens orientais;

Desde o séc. XVII, os lusitanos construíram diversas fortificações na fronteira norte e oeste entre eles estão Forte Príncipe do Beira, O Forte Coimbra e o Forte de Macapá.

No Rio Madeira, após a penetração de diversas expedições e principalmente a de Raposo Tavares (1647 - 1650), os jesuítas fundaram uma missão na foz, do mesmo rio, chamada de tupinambarana.

A parte do oeste extremo brasileiro foi colonizado pela mineração, gerando contendas e conflitos entre as coroas ibéricas; No ano de 1730, seguindo os cursos do ouro do centro - oeste, os irmãos Fernando e Artur Paes de Barros, encontraram o metal precioso no Vale do Guaporé;

Em 1748, a coroa lusitana, desmembrou de São Paulo a Capitania do Mato Grosso, visando fiscalizar de forma mais rigorosa a extração de ouro.
Em 1752, Antonio Rolim de Moura fundou a capital Villa Bella, o Forte Nossa Senhora da Conceição e promoveu a colonização da região.

Em 1759 é fundado o povoado de Nossa Senhora do Salto Grande do Rio Madeira (atual Teotônio) sob os auspicíos do Juiz-de-fora Teotônio da Silva Gusmão.

A Economia Colonial tinha com o sustentáculo a mineração, mas praticava-se a agropecuária, que era uma atividade complementar e ainda subordinado aos interesses da mineração e da política de proteção das fronteira. A mão-de-obra era escravo-silvícola. Além disso, ocorreu o comércio, a capitania importava escravos, tecidos, utensílios e alimentos. O transporte era feito pelos rios e no trecho terrestre em lombos de burros (tropas de muares).

A região exportava ouro, drogas do sertão. O Monopólio do comércio era da Companhia de Comércio do Grão Pará e Maranhão (1756 - 1777), realizado pela rotas de monções do norte (Amazonas, Madeira e Guaporé).

A Sociedade Colonial do Guaporé era comandada por uma elite branca, que controla as minas e lavras e ainda os altos cargos da administração pública. Era uma sociedade escravista e com pouca mobilidade social, onde a posição social era definida pela cor. Abaixo da camada, dominante aparecia um grupo médio, dominado pelos mestiços, que possuíam pequenas propriedades e pequenos grupos de escravos ou ainda funcionários de baixo escalão. Na parte baixa apareciam os índios, que tiveram utilidade como braço de trabalho.

As doenças, tropicais assolavam a região principalmente a malária, febre tifóide, febre amarela, pneumonias e máculo. Além disso, várias vezes a região foi impregnada por epidemias de varíola, sarampo, beribéri e tifo.

Outro traço marcante foi a servidão negra que ativou a economia regional, a colonização e a fixação portuguesa na região. O maior Quilombo da região foi o do Piolho ou Quariterê, na fase da Rainha Teresa de Benguela


O Imperialismo do século XIX na Amazônia brasileira
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A corrida imperialista do século XIX desenvolvida pelos potências européias (Inglaterra, França, Bélgica, Alemanha e Itália) E.U.A e Japão em busca de matérias primas e mercados consumidores de produtos industrializados atingiu a Amazônia brasileira pela atuação de ingleses e norte-americanos que na busca do látex e do controle da navegação fluvial, visava dominar setores estratégicos da economia amazônica.

Nesse contexto estudiosos e viajantes que passaram pela Amazônia defendiam sua internacionalização em benefício da melhoria da comercialização da produção econômica do Noroeste Boliviano.

Em 1852 sob pressão dos E.U.A e da Bolívia, o imperador Pedro II concedeu ao Visconde de Mauá, o Monopólio da Navegação dos rios da Amazônia.

Em 1867, foi assinado o Tratado de Ayacucho, entre Brasil e Bolívia, que definia a livre navegação pelos rios da Amazônia e concedia ao Brasil em definitivo, a região do Alto Madeira.

Em 1874, a Companhia Amazon Steam Navigation, de capital norte-americano, monopolizava a navegação fluvial do Amazonas, Madeira, Beni, Guaporé e Mamoré.


A Economia no Oeste Amazônico

O 1º Ciclo da Borracha
a descoberta da Vulcanização em 1839, por Charle Goodyear acelerou o interesse mundial pela hevea brasiliensis (denominada por La Conda-Mine), desencadeando uma corrida imperialista em busca da borracha amazônica.

A exploração do látex levou a formação de vastos seringais dominado pelos seringalistas ou coronéis de barranco. Os trabalhadores eram os seringueiros, que podiam ser nativos (mansos) ou nordestinos (brabos). O regime do toco ou barracão, era a forma de trabalho, utilizada, que condenava o seringueiro a dúvida eterna do seringalista.

O Comércio era realizado pela casas de aviamento de Belém e Manaus.
A exploração da borracha, nos vales do Madeira Mamoré e Guaporé era realizado por seringueiros bolivianos, entre eles estavam a Empresa Suarez & Hermano D. Ramon, D. Inácio Arauz, D. Pastor Oyola e Santos Mercado.

Durante este 1º Ciclo, os Nordestinos ocuparam e interiorizaram a exploração da borracha pelo Oeste Amazônico, desbravando os vales do Rio Juruá, Purús, Acre, Madeira e Javari.

A concorrência da borracha da Malásia e Cingapura derrubou os preços da borracha Amazônica, a partir de 1912.


A borracha e as tentativas de Construção da E. F. M. M

A idéia de ligar a Bolívia ao oceano atlântico, remonta aos meados do século XIX, quando os bolivianos perderam o canal de Antofogasta para o Chile, região de acesso dos produtos bolivianos para o oceano pacífico.

Foi o General Quentin Quevedo que em 1861, levantou duas hipóteses para ultrapassar o trecho encachoeirado do Madeira, a sua canalização ou a construção de uma ferrovia.

Em 1871 é criada a Madeira Mamoré R. Companny sob a direção de George Earl Church.
Entre 1873 e 1881 foram realizadas duas tentativas de construção da ferrovia a primeira pela Public Works, inglesa e a Norte Americana PeT. Collins. Esta última assentou 7km de trilho. O governo brasileiro impede a falência da M. M. R. CO.


O Tratado de Petrópolis e a Construção da Ferrovia Madeira Mamoré. A questão do Acre (1899-1902), promoveu a assinatura do T. de Petrópolis em 1903 que definia a compra da Região do Acre por 2 milhões de libras esterlinas e viabilizava a construção do E. F. M. M por parte do governo brasileiro, interessado na borracha do Acre e do noroeste boliviano.

As obras foram reiniciadas em 1907, pela empresa May, Jekill e Randolph, que pertencia a Percival Farquar, americano que comprara a concessão de construção do Engenheiro Joaquim Catramby.

As condições sanitárias de Santo Antônio, fizeram com que a Empreiteira transferi-se para 7km abaixo do ponto inicial da Ferrovia, surgindo daí a cidade de Porto Velho.
No ponto final da ferrovia encontra-se a cidade de Guajará-Mirim, que possuía vastos seringais explorados pela Guaporé Rubber Company, capitaneado por Paulo Saldanha.


A LINHA TELEGRÁFICA MATO GROSSO - AMAZONAS

A Comissão Rondon realizou a obra de ligação telegráfica entre Cuiabá e Santo Antônio do Rio Madeira, promovendo a ruptura do isolamento foram do, oeste amazônico.
Os trabalhos iniciaram no ano de 1907, no governo Afonso Pena e foram concluídas no ano de 1912 no Governo Hermes da Fonseca.

As picadas abertas na mata, serviriam anos depois para a trilha da Br - 029 (atual 364) e proporcionou o surgimento de povoados que transformaram-se em municípios do Estado (Vilhena, Pimenta Bueno e Jarú). O ponto Final da linha telegráfica ultrapassou Santo Antônio do Rio Madeira e chegou a Porto Velho (Estado do Amazonas).


A E. F. M. M e o Município de Porto Velho.

A May, Jekill e Randolph transferiu o pátio de operações para 7km abaixo da Corredeira de Santo Antônio, dando origem ao povoado de Porto Velho, que foi transformado em município em 02 de outubro de 1914, subordinado ao Estado do Amazonas.
O primeiro superintendente foi o Major Fernando Guapindaia de Souza Brejense, que teve problemas com os administradores da Ferrovia.
A cidade iniciava-se na linha divisória (atual Presidente Dutra), possuindo aproximadamente 1.500 habitantes e os bairros Alto do Bode, Baixada União, Triângulo e Olaria.


O TERRITÓRIO FEDERAL DO GUAPORÉ.

A Elevação da região em Território Federal está intimamente ligado a liderança e atuação de Aluízio Ferreira, que articulou as forças para atingir a emancipação.
A Crise da Borracha Amazônica provocada pela concorrência da Malásia, originou o abandono dos seringais e a conseqüente retirada da empresa de Farquar da administração da E. F. M. M.

Em 10 de julho de 1931 inicia-se a intervenção do governo brasileiro na Ferrovia, já em 1937 o contrato é rescindido e a Ferrovia é estatizada.

A Ferrovia funciona até 1972, quando é sucateado pelo 5º Batalhão de Engenharia e Construção.
Durante a Crise da Borracha amazônica nas décadas de 1920 e 1930, nem os grandes empreendimentos resistiram, como é o caso da Ford lândia, grande projeto de produção do henes no Pará de propriedade do norte americano Henry Ford.

O advento do 2ª Grande Guerra e o controle japonês sobre a Malásia e Cingapura, promoveram nova corrida pela borracha amazônica.

Em 1942 foram assinados os acordos de Washington, que visavam implementar um programa denominado guerra pela borracha.

Grandes levas de nordestinos chegaram a região, foi ainda criado um programa de sanitarização de algumas regiões.

O Governo Brasileiro criou o Banco da Borracha, a Rubber Corporation e a Sava (Superintendência de Abastecimento do Vale Amazônico) com o intuito de quebrar a estrutura arcaica do aviamento, mas não obtiveram sucesso.

Em 13 de Setembro de 1943, foi criado o Território Federal do Guaporé, com terras desmembradas do Mato Grosso, e do Amazonas, contando, com 04 municípios: Porto Velho (capital), Lábrea, Guajará-Mirim e Santo Antônio.

O primeiro governador foi o Major Aluízio Ferreira que logo após tornou-se Deputado Federal pela região, e chefe do grupo político Cutuba (situação), que conflitava-se com os Peles Curtas, sob a liderança de Joaquim Vicente Rondon e Renato Medeiros.
Em 1944 ocorreu a reorganização do mapa do território do Guaporé, que passou a contar com 02 municípios - Porto Velho e Guajará-Mirim.

Em 1956, o Território do Guaporé passou para Território Federal de Rondônia na mesma época do Governo J.K foi iniciado a abertura da BR - 029 (atual - 364) que auxiliou no novo surto migratório para a região juntamente com os garimpos de Cassiterita e pedras preciosas.


O ESTADO DE RONDÔNIA

Os surtos migratórios da década de 70 ao longo da Br - 364, os garimpos de cassiterita e pedras preciosas, a crise estrutural do sistema de territórios federais foram fatores determinantes para desencadear campanhas em prol da elevação de Rondônia à categoria de Estado.

A partir do governo do Coronel Humberto da Silva Guedes já denotava os caminhos profícuos para a emancipação, culminando com a criação de novos municípios e o fortalecimento da imagem de Eldorado da Amazônia.

Em 1979 chega a Rondônia, indicado pelo ministro Mário Andreazza, com total respaldo do Pres. João Figueiredo, o condutor da elevação do Território em Estado, o Coronel Jorge Teixeira de Oliveira, que toca a preparação final da estrutura e conjuntura para a grande salto.

Em 22 de dezembro de 1981 é criado Estado de Rondônia, e em 04 de Janeiro de 1982, O Estado é instalado, tendo como seu 1º governador o Cel. Jorge Teixeira.

por Walfredo Tadeu

BIBLIOGRAFIA
Hugo - Victor - Desbravadores. Rio de Janeiro. C. B. A. G - 1991.

Pinto - Emanuel Pontes, Rondônia, Evolução Histórica, A Criação do T. F. G, Fator de Integração Nacional, Rio de Janeiro, Expressão e Cultura, 1993.

Teixeira - Marco Antônio Domingues & Fonseca, Dante Ribeiro, História Regional (Rondônia), Porto Velho. Rondoniana. 1998.

domingo, 29 de junho de 2008

A pioneira Marise Castiel






Quando chegou a Porto Velho, no ano de 1947, procedente do Estado do Pará, onde nascera, a professora Marise Magalhães Costa Castiel tinha 31 anos de idade e o Território Federal do Guaporé apenas quatro anos de existência. A região passava por um processo de organização social, política e administrativa em decorrência da própria criação do Território, das primeiras eleições para deputado federal e das questões políticas nacionais com a queda da ditadura Vargas e a redemocratização do país.

A professora Marise Castiel e seu marido Jaime Castiel chegavam à capital do Território do Guaporé para ficar, trabalhar, construir, deixar raízes e, sobretudo, fazer história. Eram amigos do prefeito Carlos Augusto de Mendonça, que os havia convidado. Governava o Território o coronel Joaquim Vicente Rondon e o coronel Aluízio Ferreira era o deputado federal da região.

Não há como falar da trajetória da professora Marise Castiel sem mencionar política. Mesmo porque o casal Jaime e Marise Castiel foi protagonista das várias fases da vida política local, principalmente a professora Marise Castiel, pioneira na luta feminina em prol da educação e de melhores condições de vida e trabalho.

O começo de sua ascensão na área educacional ocorreu durante o governo do major Frederico Trotta, quando se tornou amiga da primeira dama, a também professora Laudimia Trotta. Juntas, fizeram o governador baixar o decreto-lei que criou o Curso Normal Regional do Guaporé, do qual foi a primeira diretora. O curso seria denominado Carmela Dutra, em homenagem à primeira dama do país.

PARTIDÁRIA - Sua trajetória como educadora jamais a afastou da luta partidária, sempre conseguia um jeito de ligar os dois lados e obter conquistas para a área educacional com sua influência política, tendo exercido importantes cargos públicos. Dona Marise, viveu o período conturbado e provinciano da política dos Cutubas e dos Peles-Curtas, e seu marido, Jaime Castiel foi prefeito de Porto Velho três vezes, e teve, inclusive, o nome indicado para ser governador do Território. A política era sua outra vocação.

Foi Cutuba e Pele-Curta, dependendo do momento e do interesse em manter funcionando o setor educacional, por exemplo, ou influenciar na condução do Território. Mas o golpe militar de 1964 e a truculência do capitão Anacreonte a pegaram de jeito. O marido foi preso, foi perseguida no serviço público e suspensa de suas atividades. Pura perseguição política. Mas, depois do vendaval, ela se tornaria aliada dos sucessivos governadores, sem mágoa e sem culpas. Era política na própria acepção da palavra.

LUTA PELA CRIAÇÃO DO ESTADO - Dona Marise foi uma das mulheres pioneiras na luta pela criação do Estado de Rondônia, foi vereadora e, em seguida, candidata a deputado estadual, em 1982. E foi aí que ela percebeu que a política rondoniense havia mudado muito. O sistema não era mais Cutuba ou Pele-curta. Era muito maior, frio e calculista. Sentiu-se traída, ficou decepcionada, mas continuou lutando, enquanto tivesse vida e saúde. Poucas mulheres de sua época tiveram participação tão efetiva na condução dos destinos de Rondônia quanto dona Marise Magalhães Costa Castiel, que morreu no dia 7 de fevereiro de 1999, aos 82 anos de idade, sem nunca sentir-se derrotada. A História agradece sua existência em benefício de Rondônia.


Fonte: Francisco Matias - Historiador e Analista Político Porto Velho

Rondônia: raízes da colonização


Rondônia: raízes da colonização
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É bastante difícil determinar qual foi o primeiro europeu que chegou às terras amazônicas, atravessou ou se instalou em Rondônia. Ao que tudo indica foram expedições espanholas que chegaram primeiro a Amazônia. Teria sido Vicente Yaffez Pinzôn que, nos primeiros meses de 1500, chegou à foz do rio amazonas, por ele chamado de Mar Doce (mar dulce). Em 1541, vindo de oeste para leste Francisco Orellana desceu o rio em direção ao mar, no que foi repetido por Pedro de Ursa e Lope Aguirre.

Do lado português o primeiro a se aventurar pelas brenhas amazônicas teria sido Pedro Texeira, em 1641, fazendo a demarcação do território português. Na região rondoniense a primeira expedição de que se tem noticia é a de Raposo Tavares, saindo de São Paulo em 1647 e chegando a Belém em 1650. Depois disso, em 1722, Francisco Melo Palheta ajudou a definir o território português saindo do Pará, passando pelo Amazonas, Madeira, Guaporé e Mamoré.

Em 1742 Manoel Felix de Lima, partindo do Mato Grosso teria chegado ao Pará, mostrando à coroa portuguesa que o caminho de ligação entre as minas do Guaporé e o Grão-Pará eram mais seguras pelo rio Madeira. Na pratica essas expedições anularam o tratado de Tordesilhas.

Entre 1737-43 uma missão cientifica, da França, chefiada por Charles M. de la Cordomine, visitou a região. Entre 1783-92 uma missão portuguesa também visitou a região, no que se chamou de missão filosófica. O objetivo dessas missões “científicas” era encontrar ouro, mas só aumentaram o mito do “el dorado”, visto não terem encontrado nenhum vestígio de ouro.

As expedições em busca de ouro e de índios para escravizar ampliaram as fronteiras portuguesas, mas também geraram sérios problemas diplomáticos. Principalmente depois da restauração do Reino Português, logo após o fim da União Ibérica. Os portugueses haviam aproveitado o período da União para avançarem para além da linha de Tordesilhas e, com isso ampliado o território português.

Antes da descoberta, Portugal e Espanha já haviam definido as fronteiras. Primeiro o Tratado de Alcaçovas (1481) definia como portugueses as terras descobertas para oeste e abaixo das ilhas Canárias. A Bula Inter Coetera (1493) definiu a fronteira a 100 léguas a oeste de Açores e Cabo Verde. Não contente Portugal, força a assinatura do Tratado de Tordesilhas (1494), a fim de assegurar posses em terras descobertas no Atlântico.

Em 1713 Portugal assinou com a França e a Espanha o primeiro tratado de Utrech (o segundo tratado definiu fronteiras ao sul, na região de Sacramento (1715) e na região Oiapoque, definindo o Amapá como território brasileiro). Isso facilitou a penetração portuguesa na região Amazônica.

Somente em 1750, com a revogação do Tratado de Tordesilhas, pelo Tratado de Madri e valendo-se do principio de Uti Possidetis de Facto, é que findaram os problemas que se iniciaram com a penetração de bandeirantes e com o avanço do tempo da União Ibérica (1580-1640). Como ainda permaneciam abertas algumas questões de fronteira, em 1777 foi assinado o tratado de Santo Ildefonso, definindo a fronteira no Rio Guaporé-Mamoré.

Mas antes disso, em 1559, holandeses se estabeleceram com fortificações no encontro do Xingu com Amazonas quando fizeram contato com os índios e mantiveram plantios de cana-de-açúcar e tabaco. Em 1610 encontraremos fortificações inglesas na foz do amazonas. Em 1612-15 os portugueses lutaram contra os franceses no Maranhão. Essa é a razão pela qual Francisco Caldeira C. de Barros fundou o Forte Presépio, originando a cidade de Belém. Em 1624 foi criado o estado do Maranhão e Grão-Pará. E com Pedro Texeira foi firmada e consolidada a presença portuguesa na região norte.

MISSÕES RELIGIOSAS - Esses tratados e avanços dos bandeirantes definiram fronteiras, mas a ocupação de fato só passou a acontecer com as missões religiosas, principalmente as dos jesuítas e ação do padre João Sampaio que em 1728 fundou um núcleo entre as cachoeiras de Santo Antônio e a foz do Rio Jamari. Antes disso, em 1669-72 os padres Manoel Pires e Garzoni Fizeram contato com os tupinambaras e fundaram uma aldeia perto da foz do rio Madeira, originando a localidade de Parentins. Essa presença Jesuítica se deu tanto do lado Português como espanhol. A constatação da presença dos religiosos foi feita pela expedição de Palheta.

Em 1734 os irmãos Arthur e Fernando Paes Barros encontram ouro no vale do Guaporé, fato que atraiu muita gente. Em função disso a coroa mandou D. Antônio Rolim de Moura para ocupar a região. Dessa missão nasceu o distrito de Pouso Alegre (1743) que 3 anos depois passaria à categoria de município com o nome de Vila Bela da Santíssima Trindade.

Essa localidade veio a ser a capital da então capitania do Mato Grosso criada em 1748 e instada por Rolim de Moura em 1752. entretanto a mineração não foi frutuosa na região do Madeira-Guaporé-Mamoré, como se pode constatar pela ausência de povoações que tivessem se formado e permanecido ao redor de pontos de mineração. Ou seja, nos tempos coloniais, a mineração na região de Rondônia não foi significativa.
A presença castelhana na região amazônica ameaçava a soberania portuguesa e por essa razão em 1733 um alvará real proibia a navegação no rio Madeira.

Somente em 1759 o conde Rolim de Moura ordenou ao juiz de fora Teotônio Gusmão a fundação do povoado de Nossa Senhora da Boa Viagem do Salto Grande (cachoeira do Teotônio). As relações entre Portugal e Espanha, por causa das fronteiras, e das riquezas que se sonhava presentes na região, sempre foi animosa, pois ambas as nações avançaram pelo território da outra.

Essa é uma das explicações das varias fortificações que se podem ver ao longo da fronteira oeste brasileira. Cabendo um destaque para o forte Príncipe da Beira, (projetado por Domingos Sambucetti, que morreu de malária em 1780) edificado entre 1776 e 1783, mas, a bem da verdade, nunca concluído. Essa obra, como mais tarde a EFMM, custou inúmeras vidas colhidas pela fome, febres, epidemias e por ataques de índios.

Por Neri de Paula Carneiro –
filósofo e historiador

A ligação do Mato Grosso a Rondônia via Estrada


A ligação do Mato Grosso a Rondônia


Numa tarde quente de 6 de julho de 1960, o então presidente da República Juscelino Kubitschek escalou as pequenas escadas que levam à cabine do trator Caterpillar D8 para delírio da pequena multidão que se aglomerava em volta do veículo mais utilizado na derrubada das árvores da Amazônia brasileira. JK acenou para a população de Vilhena, a última cidade do então território de Rondônia antes da divisa com Mato Grosso, deu a partida no motor de mais de 300 cavalos, acelerou e pôs abaixo a última árvore que, teoricamente naquele momento, impedia o trânsito de veículos entre Cuiabá e Porto Velho. Oficialmente estava aberta a BR-029, sinônimo de um futuro próspero para os cerca de 50 mil moradores de uma das áreas mais isoladas do Brasil.

Durante 11 meses, mais de 6 mil homens participaram das obras, que basicamente consistiam em derrubar a mata e abrir um caminho na floresta. Os engenheiros precisaram contar com a ajuda dos índios para definir o traçado da estrada, que tinha como base a linha telegráfica instalada pelo Marechal Rondon 46 anos antes.

Passadas quase cinco décadas desde que a última árvore foi derrubada por JK, é difícil acreditar que a estrada de 700 km que separa Vilhena de Porto Velho um dia foi completamente cercada por densa floresta. Na verdade, quem dirige pela rodovia - que hoje tem o nome de BR-364 - precisa de uma dose amazônica de imaginação para crer que foi preciso usar índios como guias, porque tudo ali era um grande oceano de árvores.

De um lado e de outro da estrada há muito pouca coisa que lembre a floresta amazônica. Uma ou outra árvore de grande porte aqui e ali, alguns pedaços de troncos ainda não retirados e, bem ao longe, raras e pequenas áreas preservadas. A floresta que parecia quase intransponível há 50 anos se tornou uma imensidão de pastagens.

É fácil confundir a região com o Centro-Oeste brasileiro. Principalmente pela quantidade de fazendas que se dedicam à pecuária de corte. Ao longo da viagem entre Porto Velho e Vilhena o que mais se vê são bois. Estão em todo o canto e já somam mais de 12 milhões de cabeças no Estado. Hoje a pecuária é tão importante quanto a indústria madeireira em Rondônia. Cada atividade representa 25% do PIB estadual, de R$ 12,9 bilhões.

A espinhal dorsal do desenvolvimento econômico de Rondônia é a BR-364. Por ela passa a maior parte dos produtos que saem do Estado, como a madeira, a carne, os laticínios e, agora, a soja. Sem ela Rondônia não conseguiria ter o terceiro maior PIB da Região Norte nem a população de cerca de 1,5 milhão de pessoas, a maior parte migrantes do Sul e do Sudeste. Rondônia é o único Estado do Norte do Brasil em que a fisionomia tão característica dos índios amazônicos não é predominante entre a população.

Da mesma maneira que é o alicerce de sustentação da economia, a BR-364 é também o eixo do processo de desmatamento iniciado em 1960 e que explodiu nos anos 80, tornando Rondônia o Estado com a menor cobertura vegetal em relação à área total de toda a região amazônica. É em volta dela que estão os municípios com as maiores taxas de devastação do Estado, como o campeão Presidente Médici, que derrubou 87,5% de suas florestas, ou Jaru, que transformou em pastagens 231 mil hectares de uma área de 290 mil hectares.

As fotos de satélite de Rondônia explicitam o papel da BR-364 no rápido e agressivo processo de devastação que a floresta amazônica sofreu. Por elas é possível ver que ao longo da rodovia não há praticamente nenhuma área representativa de floresta primária. Tudo foi ao chão para dar lugar primeiro à lavoura e depois às pastagens.

Até a década de 70, quando a então BR-029 ainda era quase uma trilha, intransponível no período de chuvas, pouco foi destruído ao longo da estrada. A coisa começou a mudar com o Plano de Integração Nacional, instituído por decreto-lei pelo então presidente Emílio Garrastazu Médici, em julho de 1970. Com o lema "Integrar para não Entregar", o governo militar iniciou uma ampla campanha de colonização para, enfim, habitar a vastidão amazônica brasileira. Como diziam as campanhas oficiais, "Uma terra sem homens para homens sem terra".

Pelo decreto, um raio de 100 quilômetros nas margens das rodovias federais que cortavam a Amazônia seria destinado à colonização. A cada migrante, um lote de 100 hectares. Por lei, cada um deles deveria desmatar 50% de suas terras para ter a posse oficial da área, concedida pelo Incra. Quem não colocasse a floresta abaixo era considerado um agricultor não-produtivo e perdia as terras doadas pelo governo.

MIGRANTE DO PARANÁ - O agricultor José Roberto Vrena seguiu à risca a cartilha quando chegou a Rondônia vindo de Cascavel (PR), em 1975. "Coloquei fogo em tudo, não ficou nada lá", lembra. Vrena foi além do que pedia o governo na época, desmatou todos os 100 hectares à margem da BR-364 que havia recebido do Incra. "Éramos obrigados a fazer isso, senão perdíamos a terra", diz ele. Na década de 80, com a chegada dos pecuaristas, Vrena vendeu seu lote e foi morar em Porto Velho. Arrumou emprego no setor público e lá ficou até se aposentar, há seis anos. Com as economias comprou um pequeno sítio, também na margem da rodovia. "Dessa vez não derrubei nada, quando cheguei aqui só tinham três pés de manga em toda a propriedade", diz. Apesar da fartura de pasto e escassez de árvores, Vrena batizou seu sítio de Éden Amazônico.

No início dos anos 80, quando um financiamento de US$ 20 milhões do Banco Mundial permitiu que a BR-364 enfim fosse asfaltada, milhares de agricultores como Vrena arrependeram-se de ter queimado a floresta de suas propriedades. O arrependimento não estava ligado a uma súbita onda de consciência ambiental. Tinha, na verdade, razões econômicas.

Foi mais ou menos nessa época que a indústria madeireira passou a florescer no Estado. Serrarias começaram a pipocar por todas as cidades na beira da BR-364. Com a rodovia asfaltada ficou mais barato transportar a madeira, mesmo que em toras, para o mercado consumidor do Sul e do Sudeste. Sem nenhum tipo de fiscalização e com matéria-prima abundante, em pouco tempo a indústria madeireira se tornou a força motriz da economia de Rondônia.

Três anos após a conclusão do asfaltamento da BR-364, em 1986, João Daniel Kalsing chegou a Rondônia em um caminhão com os maquinários de sua serraria. Gaúcho de Arroio do Meio, João é a terceira geração de madeireiros em sua família. O avô trabalhava com madeira na Alemanha e ensinou o ofício para o pai de Daniel, que, por sua vez, repassou ao filho. Os Kalsing vieram subindo do Rio Grande do Sul até Rondônia atrás da madeira. Quando ela escasseou no Rio Grande, foram para Santa Catarina e depois ao Mato Grosso.

"Meu irmão veio aqui em 86 ver a região e na mesma semana me ligou e disse: "Embarca tudo e vem pra cá, aqui tem madeira que não acaba mais"", relembra. Nos anos seguintes os Kalsing fizeram e ainda fazem - "dinheiro pra porra", como gosta de dizer. Tiraram madeira de toda a região de Ariquemes. "Nunca houve fiscalização, ela só começou depois que os ongueiros se instalaram em Brasília a mando dos EUA e da Europa, que querem impedir o crescimento do Brasil". Daniel, como a maior parte dos madeireiros, garante que agora só extrai madeira de áreas legalizadas. Ele responde a dois processos por crime ambiental.

INDÚSTRIA MADEIREIRA - A explosão da indústria madeireira levou a um consequente esgotamento da matéria-prima ao longo dos anos 80 e 90. Sem as árvores, as serrarias passaram a migrar para as novas fronteiras da floresta. Foram com elas as milhares de pessoas que viviam da indústria de extração e beneficiamento da madeira e não conseguiram se manter em áreas que passaram a ser dominadas pela pecuária e pela agricultura mecanizada.

Cerejeiras, pequena cidade ao sul da BR-364, perto da divisa com o Mato Grosso, é um bom exemplo dessa migração interna. Em 1987, quando a indústria da madeira era a única na região, a cidade contava com mais de 35 mil habitantes. Agora que é uma forte produtora de soja, apenas 16 mil pessoas vivem lá, de acordo com o IBGE.

Hoje, a principal fronteira florestal de Rondônia está na região de Machadinho do Oeste, no Norte de Rondônia, há menos de 100 quilômetros da divisa com o Amazonas. É de lá que sai quase metade da madeira extraída em Rondônia todos os anos. E é lá também que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), identificou o maior crescimento do desmatamento no Estado em 2007.

Apesar desses dados, os madeireiros fazem coro de que não são os culpados pela devastação. "Quem destrói a floresta é o agricultor, que queima tudo para fazer pastagem, nós só tiramos uma árvore aqui e outra ali", diz Jonas Perutti, capixaba de Colatina que chegou a Rondônia em 1991 para montar a Madeireira Litorânea. Eles não aceitam o papel de vilões. "Viramos bandidos porque não temos representação em Brasília, porque não somos organizados como os pecuaristas", diz Kalsing. "Como as ONGs precisavam achar um culpado, nos escolheram", diz.

Colaboração de Yan Boechat

sábado, 28 de junho de 2008





Notas Biográficas

A história da Amazônia, e de Rondônia em particular, certamente são desconhecidas da grande maioria dos nossos "visitantes" de outros estados. Parece mesmo não ser exagero generalizar, dizendo que quase tudo o que diz respeito a essa enorme parcela do Brasil ainda não faz parte do conhecimento comum do brasileiro, ou que é informado de modo distorcido.
1. Primórdios.

Os primeiros contatos do mundo português com a região noroeste do Brasil ocorreram ao longo do século XVII. Em meados daquele século, Antonio Raposo Tavares, vindo pelo rio Mamoré atingiu o rio Madeira, percorreu toda sua extensão, e desceu o rio Amazonas até a foz. Quando os franceses foram expulsos do Maranhão, as medidas tomadas pela coroa portuguesesa para impedir conquistas de terras por parte de outras nações na região levou a fundação do Forte do Presépio de Santa Maria de Belém, e, com base nele, à penetração e construção de fortins na bacia do rio Amazonas.

Às ações da coroa juntaram-se os jesuítas, que em 1669 fundaram na foz do rio Madeira a missão de Tupinambarana. Daí iniciaram a penetração do vale do rio Madeira. Foi o padre jesuíta João Sampaio o fundador da aldeia de Santo Antonio das Cachoeiras, onde muitos anos depois pretendeu-se estabelecer o ponto inicial da E.F. Madeira Mamoré.

Porém, fora os aldeamentos jesuíticos que tinham algum sentido de perenidade, não haviam esforços de fixação na terra para produção de riquezas. Apenas exploravam-se as riquezas da floresta e o trabalho indígena.

Em toda a região, o maior foco de lutas por conquistas territoriais era o vale do rio Guaporé, com os espanhois que se haviam fixado na região que hoje faz parte da Bolívia. Alí, ao longo da primeira metade do século XVIII travaram-se inúmeras batalhas pela posse do lado direito do rio.

Lutavam, portugueses e espanhois, pelas jazidas auríferas descobertas na província de Mato Grosso (em Bom Jesus, atual Cuiabá, e Vila Bela), durante o processo de avanço dos portugueses em direção ao oeste, a despeito do inócuo Tratado de Tordesilhas que consignava aquelas terras ao Rei de Espanha. E depois, para estabelecer melhores posições para dar cumprimento aos Tratados de Limites bilaterais, quando adotaram o princípio do Uti Possidetis (a posse pelo uso), como forma de resolver sem combate armado suas questões de fronteiras.

Para garantir as conquistas portuguesas, o governador da província de Mato Grosso Luis Albuquerque de Melo e Cáceres, determinou a construção de uma fortificação nas proximidades do local da antiga Aldeia de Santa Rosa (espanhola, na margem esquerda do rio Guaporé). As obras de construção do Real Forte do Principe da Beira foram executadas entre 1776 e 1783.

O 1º Ciclo da Borracha
O isolamento em relação ao resto do país foi o fato mais marcante da vida dos povos da Amazônia nos primeiros 4 e meio séculos do descobrimento. Como não mais ocorreram descobertas de ouro ou minerais preciosos além de Vila Bela, nem a coroa portuguesa, nem o império brasileiro posteriormente, demonstraram maior interêsse na região pacificada e de domínio consolidado.

Vivendo do extrativismo vegetal, o desenvolvimento da economia regional é caracterizada por ciclos, períodos em que algum dos recursos naturais em que a região é pródiga alcançava bom preço no mercado.

Assim foi que o desenvolvimento tecnológico e a revolução industrial na Europa, transformaram a borracha, então um produto exclusivo da Amazônia, em produto de grande demanda e preço elevado. Desde o início da segunda metade do século XIX, a borracha passou a exercer forte atração sobre empreendedores visionários. Assim:
Em 1867 os engenheiros José e Francisco Keller exploraram a região das cachoeiras do Rio Madeira, para locação de uma ferrovia.

Em 1869 George Earl Church, engenheiro norte-americano obteve concessão do governo da Bolívia para organizar e explorar uma empresa de navegação ligando os rios Mamoré e Madeira. Posteriormente os planos foram modificados para a construção de uma ferrovia.

Em 1870, o mesmo Church recebe do governo do Brasil permissão para construir uma ferrovia ao longo do trecho encachoirado do Rio Madeira.

Lutas por questões fronteiriças tornariam a ocorrer na região no final do século XIX, com a questão do Acre, provocada pela exploração de borracha pelos brasileiros em terras da Bolívia. As riquezas obtidas com a venda da borracha haviam ajudado a consolidar a jovem república brasileira, após a desorganização da economia provocada pelo final da odiosa prática da escravidão humana, pelo proverbial descompromisso da elite dirigente com a Nação, e pela proclamação da República.

Foi somente após o efetivo controle das terras do Acre conseguida por Plácido de Castro e seus liderados, em parte financiados pelos "barões da borracha" de Manaus, que o governo Central do Brasil adotou medidas efetivas para consolidar sua posse. Esta efetivou-se com o Tratado de Petrópolis de 1905, que incorporou a área ao território brasileiro e obrigou o Brasil a construir uma ferrovia que, superando o trecho encachoeirado do rio Madeira, possibilita-se o acesso dos produtos bolivianos, borracha principalmente, aos portos brasileiros do Atlântico (Belém do Pará, na foz do Amazonas, inicialmente).

Em 30 de abril de 1912 foi concluída a Estrada de Ferro Madeira Mamoré, com a chegada do primeiro comboio à cidade de Guajará Mirim, fundada nessa mesma data.
Era tarde. A Amazônia perdera a primazia do monopólio de produção da borracha. Os seringais plantados pelos ingleses na Malásia com sementes oriundas da Grande Floresta, passaram a produzi-la com maior eficiência e produtividade, assumindo o controle do comércio mundial do produto.

O 1º ciclo da borracha, que movimentou a economia da região e trouxe as primeiras grandes levas de migrantes, principalmente da região nordeste, durou cerca de 50 anos. Deixou como herança a EF Madeira-Mamoré e as cidades de Porto Velho e Guajará Mirim. De resto era a grande floresta. Imensa, desconhecida, quase inpenetrável. Encerrado esse ciclo, a economia regional viveu um longo período de completa estagnação.


O Ciclo do Telégrafo
Como toda a Amazônia, após o declínio do 1º ciclo da borracha Rondônia passou por um período de estagnação econômica (vale observar que aqui, Rondônia, refere-se a regiões pertencentes aos estados de Mato Grosso e Amazonas, visto que o antigo Território do Guaporé somente foi criado em 1943).

O esvaziamento econômico e o isolamento desta vasta região fez com que o Governo Central decidisse construir uma linha telegráfica entre Cuiabá (MT) e Porto Velho(AM), cortando todo o norte do Mato Grosso, então uma imensa e desconhecida floresta. Grande parte da região cortada pela linha veio a constituir o atual estado de Rondônia.

O então Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon assumiu o comando da missão. Entre 1907 e 1915 Rondon trabalhou utilizando mão de obra do sul do país. Estes trabalhadores, somados a outros migrantes atraídos pelo avanço da linha telegráfica, criaram povoados nos locais onde se instalaram os postos telegráficos, entre os quais: Vilhena, Marco Rondon, Pimenta Bueno, Vila Rondônia (hoje, Ji Paraná) e Ariquemes.

A expedição Rondon

A expedição Rondon contribuiu para a ocupação desta região, desbravando-a e demarcando os antigos seringais. Além do espírito desbravador que lhe valeu a alcunha de o "último bandeirante", Rondon mostrou um espírito humanista raramente encontrado, sendo grandemente responsável pela mudança na forma de ver e tratar os índios, habitantes primeiros deste vasto país. Criou o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), origem da atual FUNAI.

Sua maneira de encarar o contato com nossos irmãos das matas, perseguidos e mortos aos milhares sob os argumentos e bandeiras do progresso, do avanço da civilização e da salvação pela fé religiosa, pode ser resumido na célebre frase: morrer, se preciso for, matar nunca !

Ao contrário dos movimento anteriores cujas ações transcorreram ao norte da região no sentido oeste, este ciclo ocorreu no sentido sul-norte. As fundações de vários municípios do estado, como Vilhena, Pimenta Bueno, Ji Paraná e outros são seu legado, e em sua esteira desenvolveu-se a ligação de Rondônia com os centros produtores e consumidores das regiões central e sudeste do país.


O 2º Ciclo da Borracha
Quando, durante a 2ª Guerra Mundial, as forças japonesas dominaram militarmente o Pacífico Sul, invadiram também a Malásia e assumiram o controle de seus seringais. Para suprir as Forças Aliadas da borracha imprescindível para a movimentação dos exércitos, os velhos seringais da Amazônia foram reativados. Isso trouxe um novo e volátil alento à economia regional, embora se possa dizer que a incapacidade empresarial e a falta de visão da elite dirigente regional tenham resultado na perda de mais esta oportunidade para aplicar uma política de efetivo desenvolvimento à região.

Milhares de nordestinos foram atraídos e trazidos para cá. Eram chamados os "soldados da borracha". Encerrada a guerra, reorganizadas as economias de vencedores e derrotados na Europa e Ásia, cessaram as atividades nos velhos e ineficientes seringais da Amazônia. E nova fase de estagnação abateu-se sobre a Hileia.


O Ciclo da Cassiterita e do Ouro.
Em 1958 garimpeiros descobriram grandes aluviões de cassiterita (minério de estanho) em áreas dos antigos seringais. Iniciou-se um período de extrativismo mineral, sob forma de garimpo. A garimpagem manual absorvia grande parte da mão-de-obra local, e atraia grandes contingentes humanos, concentrando-os em Porto Velho.

Nessa época, tentativas de implantação de colônias agrícolas falharam, seja devido ao desconhecimento de tecnologias agrícolas adequadas à região, seja pela concorrência mais forte do garimpo.

Em 1971 o Ministério das Minas e Energia proibiu a garimpagem manual, obrigando a mecanização da lavra. Em 1970 a garimpagem atingira seu pico, produzindo 4.721 ton de minério de estanho. Ao final da década de 70, Rondônia respondia por quase 70% da produção nacional. Em 1989 foram produzidas 54.192 ton, sendo 8.974 ton através da garimpagem novamente liberada.

Daí em diante a produção entrou em declínio, provocado pelas condições do mercado internacional do produto e conflitos legais entre garimpeiros e empresas mineradoras. A produção atual é pouco significativa.

O ouro foi descoberto no leito do rio Madeira. Era, em meados dos anos 80, junto com a cassiterita, os principais produtos de Rondônia, atraindo garimpeiros de todo o Brasil. Estima-se que em 1987 haviam cerca de 600 dragas e 450 balsas extraindo ouro do rio. Eram processos extrativos rudimentares, admitindo-se perdas em torno de 50%. O trabalho nas balsas era extremamente perigoso, pois obrigava um mergulhador operar a "maraca", o terminal do mangote de sucção, conduzindo-a no fundo do rio para fazer o desmonte em profundidades de até 15m.

Como era grande a evasão (pelo menos 50%), são imprecisas as estimativas de produção. Admite-se que no ano de 1987 tenha sido da ordem de 8.000 ton. Já no início dos anos 90 entrou em declínio, estando praticamente interrompida.
Este ciclo gerou muita riqueza, sendo porém quase nulos os benefícios duradouros produzidos.

Foi uma exploração predatória e de alto impacto ambiental. Pode-se dizer que, da exploração do ouro, a maior herança é o seu passivo ambiental: erosão do leito e das margens do rio, contaminação das águas e da cadeia alimentar pelo mercúrio, poluição por óleo, combustíveis e rejeitos lançados na água e por equipamentos abandonados, sedimentação do canal navegável, etc.

Nos denominados garimpos do Arara e Periquitos, as crateras abertas por desmonte hidráulico chegaram a comprometer a BR-425, que vai até Guajará Mirim. No local foram encontrados fósseis de mastodontes e tatu-gigante, entre outros. Esta bacia está sendo destruída, e seus fósseis contrabandeados.
Não deixou boas lembranças, este ciclo.


O Ciclo da Agricultura.
Cronologicamente sucede ao ciclo da cassiterita, tendo-se beneficiado dos agregados populacionais de todos os anteriores, consolidando Rondônia como estado produtor e entreposto comercial da região nor-noroeste do país.

Caracterizou-se por maciços investimentos federais nos projetos de colonização, e grande intensificação do fluxo migratório. Como consequência, e de forma desordenada, formaram-se rapidamente inúmeros aglomerados urbanos, e ocuparam-se efetivamente as terras ao longo da BR-364.

Este processo quebrou a estrutura espacial então existente, condicionada aos ciclos extrativistas, e de economia concentrada nas cidades de Porto Velho e Guajará Mirim. O eixo de importância econômica do Estado deslocou-se para os municípios que iam sendo criados ao longo da rodovia que é a espinha dorsal da vida econômica do Estado.
A ocupação e colonização do espaço físico exigiu maciças derrubadas e queimadas na floresta.

O contingente populacional sofreu incrementos explosivos, a infra-estrutura urbana era muito deficiente, e a malária tornou-se comum, quase um mal caseiro não fosse a gravidade da moléstia, atacando cerca de 130.000 rondonienses por ano.

Mas, apesar das enormes dificuldades, o trabalho de seu povo vem tornando a cada dia melhor nossas cidades. A saúde e a educação apresentam padrões superiores a vários estados federados, bem mais antigos. A produção cresce, a medida que as técnicas agrícolas vão se consolidando. O povo, como é de se esperar entre pioneiros, é forte e feliz.

A abertura desta nova fronteira agrícola no país só foi possível graças a BR-364. De 1960 quando se abriu o caminho pioneiro, até 1983/84 quando a rodovia foi asfaltada, a estrada se manteve aberta graças à "santa insanidade" daqueles que se aventuravam em percorrê-la, ficando incontáveis vezes retidos em areais imensos e atoleiros gigantes por dias e semanas, comendo o que era possível.

Enfrentando a lama, entre o 2º semestre de 1977 e o final de 1982, 220.064 migrantes, vindos principalmente dos estados do Sul, chegaram a Rondônia. Deixaram lá o que tinham, alguns apenas os familiares, para conseguir um pedaço de chão, enfrentar os piuns, os carapanãs, os anofelinos (malária), e o trabalho inacabável de derrubar a mata, queimar, abrir estradas, preparar a terra, semear, colher, e, carregando o cacaio nas costas, levar seus produtos por quilômetros e quilômetros de estradas de terra (ou lama?) até os compradores. Assim se construiu o estado de Rondonia.

Ninguém suponha que as derrubadas e queimadas foram feitas por "predadores da natureza". Quase três quartos da área total do estado ainda é mata virgem. E nenhum outro no Brasil tem maior percentual de seu espaço protegido por áreas de conservação e preservação ambiental, definidas em Lei.

Nos anos 50 e 60, a garimpagem era o grande foco de atração de migrantes, e o crescimento populacional não tem o mesmo ritmo das duas décadas seguintes. A partir de 1978 até o início da década de 90, quase um milhão de pessoas vieram construir o novo estado de Rondônia.


O final dos anos 70 e anos iniciais da década de 80 assistiram a maior intensidade da migração para Rondônia. O crescimento da produção agrícola mostrado na tabela demonstra que o trabalho na agricultura era o objetivo principal dos migrantes. Em 20 anos, um trabalho hercúleo foi realizado: a mata foi conquistada, a malária suportada e, apesar das limitações tecnológicas e muito desconhecimento da realidade regional, a produção agrícola cresceu 1.660%.
(Fonte: Planafloro)

FOTOS DA INTERNET: Rio Madeira, em Porto Velho e Ferroviária de Guajará-Mirim

quinta-feira, 19 de junho de 2008

quinta-feira, 22 de maio de 2008



















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